terça-feira, 22 de novembro de 2011

De pequenas guerras a grandes curas



O Brasil tem 2 milhões de deficientes visuais.

Maria da Paz, sofre de retinite pigmentosa (ou retinitis pigmentosa, retinopathia pigmentosa, RP). É uma doença genética, que ataca a retina causando a destruição de suas células. Foi perdendo pouco a pouco a visão.

Dona de uma audição apurada e memória quase fotográfica. Faz todo o trabalho de casa. Para telefonar, disca a partir do número cinco. É que ele tem um pontinho, que serve de referência. Frita o bife contando até 60 para cada lado. Mas, é perigoso. Lava a roupa sempre cheirando. A louça, ela sente no tato se ainda tem detergente. Limpa o chão direitinho, sentindo todas as saliências. Os rejuntes ficam mais limpos do que os de quem enxerga bem.

O mundo visto pelos ouvidos, vozes, cheiros e pelo toque.

Muito animada, participa do curso de cabaça no Centro de Cidadania da Mulher, em Santo Amaro.
No modulo "arte e cidadania", baseada na descrição e tato, fez um belo desenho da entrada do CCM, que ficou em exposição. Na arte em cabaça, fez uma pintura "chuva americana" e chorou porque a professora elogiou. Na dança circular aprende direitinho. Nos jogos cooperativos, ela e mais uma, na reta final. A companheira, solidária, fechou os olhos espontaneamente. Na atividade de 'paraquedas', alegria contagiante. Na rodas de reflexão é exemplo de superação.

Faz curso de bengala branca no Dorina Nowill, para finalmente ter mais autonomia de locomoção.

Quando pequena, se a professora mandava formar grupos, ninguém a queria. Restava o grupo dos bagunceiros e repetentes. Graças a isso, acabava fazendo o trabalho sozinha, que apresentava em nome de todos. Envolveu-se e desenvolveu-se. Daí a habilidade de falar em público.

Muitas vezes a exclusão começa na própria família, que tem dificuldade em lidar com o problema e também sofre com ele.

É movida a sonhos e determinação. Faz trabalhos voluntários e está de bem com vida. Sabe que ser incluída é poder circular pelo mundo com desenvoltura. Na guerra contra o preconceito, na cultura da paz e harmonia.

Suely Schraner 


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