sábado, 20 de agosto de 2011

RUY CASTRO - O mundo obsoleto

   Ouço dizer que vem aí a "tatuagem eletrônica" -um circuito eletrônico impresso num plástico ultrafino, aderente e flexível, que se aplicará à pele como os desenhos descartáveis que vêm nos chicletes e as crianças grudam no braço. Esses circuitos permitirão medir pressão e coração, substituirão os celulares e serão aparelhos de som -a música será ouvida dentro da cabeça, imagino.
Não sei se essa ideia me agrada. Grudar porcarias à pele parece coisa de quem não é muito de banho.
    Ouço dizer também que, um dia, todo o "suporte" físico existente no mundo desaparecerá -bibliotecas, museus, discotecas, filmotecas, coleções, arquivos. Não que será tudo reduzido a um chip. Reduzir-se-á a menos ainda, ao impalpável, ao nada. O conteúdo desses bilhões de livros, quadros, discos, filmes, fotos, documentos irá literalmente para o espaço -para as nuvens, dizem. Ótimo, mas, quando acontecer, espero ter ido antes.
    Há dias Danuza Leão me perguntou se era verdade que, assim como ela, Caetano Veloso e poucos mais, também não uso celular.     Confirmei e acrescentei que, não apenas não celulo, como não posto, não blogo, não orkuto, não tuíto, não façobook (só os arcaicos, de papel), não iPhono e não blackBerro.
Sim, uso computador (desde 1988), mas navego pouco, configuro ainda menos, quase não seleciono e não adiciono nem me deixo adicionar por ninguém. Ainda não sei bem a diferença entre um iPod e um iPad. E juro que, até há pouco, achava que "aplicativo" era um tipo de band-aid.
    Não estou me gabando nem me desculpando. Até agora tenho podido viver, trabalhar, aprender, funcionar, ter prazer e me divertir exatamente como em, digamos, 2001, quando nada disso existia.    Logo me tornarei obsoleto e terei de me atualizar. Então veremos. Mas, até lá, o mundo de hoje, tão cheio de si, também terá ficado obsoleto.

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